A maior mentira do mundo!


Na infância acredita-se em muitas coisas. No Papai Noel, no coelhinho da Páscoa e na virgindade da Angélica. Eu, além disso, também acreditava na propaganda. Ia até a padaria, comprava um Suflair, colocava em cima da mesinha da sala, e ficava sussurrando "suuuuflaaair" repetidas vezes, mas o chocolate nunca flutuava. Problema de entonação, não tenho dúvidas. A moça da televisão sabia cantar certinho, e funcionava. Entonação.
Essas coisas todas, aprende-se mais tarde, não passam de invenções para convencer as crianças a serem boazinhas o ano inteiro (eu nunca fui, mas a indulgência vinha mesmo assim), ou convencê-las a comprar o produto certo. As mentiras, grandes como elas são, chegam ao ponto de inventar um velho barbudo maníaco por dar presentes, um coelhinho com problemas proctológicos, e o Programa Espacial Brasileiro.
Porém uma certa mentira se mantem geração após geração sem sequer ser notada. Uma mentira grande demais, mesmo para um namorado da Angélica. A verdade é reveladora, leitor. Esta verdade pode ser, inclusive, perigosa. Eu mesma temo pela minha segurança. Se algo acontecer a mim (um raio, ganhar na loteria, ter um rim falho) podem ter certeza: foi por revelar a verdade. Se você quiser se proteger disso, por favor, não leia. Vá comprar ovos de páscoa, que causam, no máximo, cáries. Melhor uma mentira inofensiva que uma perigosa. Mas a escolha é sua.
Pare agora, ou prepare-se para sofrer as conseqüências.
Pois bem, a escolha foi sua. Lá vai. Você já comeu cereja? Sim, aquelas coisas que vêm sobre os bolos. Cerejas. Crianças adoram cerejas. Elas são doces, vermelhas, e cheias de calda. Todos imaginam que essa calda doce e translúcida seja feita industrialmente, claro. De certa forma, talvez o processo seja parecido com o dos pêssegos em calda. Pêssegos em calda, cerejas de bolo em calda. Certo?
Errado. Essas não são cerejas de verdade. Essas "cerejas" confeitadas são de... bem... é... como dizer? Imagine uma coisa que você não comia, absolutamente, na infância. Na verdade, nenhuma criança come, sábia que é. Descobriu?
Sim, chuchu. Chu-chu. Pegam aquela coisa verde, nojenta e cheia de água para transformar, com glicoses e aromatizantes mil, na sensual cereja. A cerejinha que coroa o sorvete é, na verdade, o chuchuzinho do sorvete. A luta pelas bolinhas vermelhas do bolo é, afinal, uma luta para ver quem come mais chuchu.
Crianças se digladiando nas festas por chuchu. Chuchu! Que louco sádico inventaria tal artimanha? Como puderam nos enganar tanto tempo? É um absurdo! A humanidade está perdida. Como confiar agora nos concursos de Miss, no sorteio dos times para a Copa do Mundo, na paz entre os homens?
Mas esperem. Talvez ainda exista alguma esperança. Se der certo, é claro. Tentem comigo. Encha os pulmões e sussurre: Suuuuuuflair...

As convulsões da vida...

Dezesseis anos. Dezesseis anos com o Brasil em copas do mundo. Uma vida, né?! O brasileiro está há uma vida torcendo pelo Brasil nas finais de copas do mundo. Desde 1990 o mundo não sabe o que é uma final de copa sem o Brasil.
Quem diria que esse hábito seria quebrado em 2006, justo na competição em que o Brasil é o grande favorito? Talvez favoritismo seja o problema. Em 94 éramos uma seleção desacreditada, sem grandes nomes, mas conseguimos mudar essa história graças à grandes atuações de jogadores como Dunga, Leonardo, Jorginho, Branco, Bebeto, Taffarel e Romário, claro! Como não citar Romário?! Ao contrário do que todos imaginavam dessa equipe, trouxemos a taça e fomos rotulados de “melhores do mundo” outra vez.
Copa de 1998. Os brasileiros chegam à França trazendo na bagagem o tal rótulo que todas as outras nações almejavam. Todos rumo ao penta! Apesar da esperança dos mais confiantes, a seleção, desta vez sob o comando de Zagallo, já não empolgava tanto quanto nos EUA, em 94. Até se deu ao luxo de perder uma partida na fase classificatória da copa. “Mas tudo bem... O Brasil tem o melhor futebol do mundo. A taça é nossa e ninguém tasca!” Final da copa, Brasil e França, os melhores do mundo contra os donos da casa. Mais uma vez o Brasil surpreende e deixa o título de campeões de 1998 para os franceses. O time apático, sem vontade e completamente dependente do pop star da copa, Ronaldinho. A desculpa?! O nosso “menino de ouro” tinha sofrido algum tipo de crise, convulsão ou sei lá o que na noite anterior e não pôde dar o show que esperávamos. Sem choro nem vela, os franceses ganharam.
Copa de 2002. Mais uma vez o Brasil chega na sede, Coréia / Japão, sem muita badalação. O time, agora com Felipão, vai conquistando aos poucos o seu espaço dentro da competição e consegue novamente chegar à final. Naquele ano, não tínhamos apenas um grande nome em campo, tínhamos um grande time com envolvimento e empenho de todos nas partidas que disputamos. Brasil e Alemanha. O melhor ataque contra a melhor defesa da copa. Todo mundo lembra o que estava fazendo neste dia e sabe no que resultou tanto stress do nosso treinador. Brasil campeão com um futebol brilhante. Enfim, chagamos ao pentacampeonato!
Copa de 2006. Novamente favoritos, os brasileiro não fazem muito alarde, nem dão show, nem empolgam muito nas suas apresentações. A torcida e a mídia cobra alterações no time e Parreira as faz, num jogo que o Brasil podia até perder, contra o Japão. O placar termina 4 a 1 pra nós. Alterações aprovadas por todos, mas o técnico não está satisfeito. O tão ostentado “quadrado mágico” volta à campo. Apesar da vitória contra Gana, a torcida ainda fica sem saber o que acontece no jogo. Ataque fraco e defesa boba, a nossa sorte é que o ataque ganês é pior. Mas tudo bem, foi 3 a 0. Quartas-de-final contra França e o Galvão, como sempre, falando asneiras e incentivando o sentimento de revanche contra a equipe que nos adiara o sonho do penta em 98. Nos flashes que antecedem o jogo, é exibida a chegada das equipes ao estádio e um pouco do pagodinho dentro do ônibus brasileiro, demonstrando confiança e otimismo dos nossos heróis. Resultado da partida... não quero nem dizer, não gosto de lembrar daquela mediocridade em verde e amarelo! Uma constelação em campo e mais uma vez não conseguimos conter o trator francês de Zidane e companhia, dessa vez com direito à um chapéu lindo no “Fenômeno”.
Sabem o que mais me dói? É saber que perdemos com o mesmo futebol que o mundo viu na final de 98. O que terá acontecido agora?! Acho que foi uma convulsão coletiva em 23 jogadores e um técnico que de tão centrado não deu um grito sequer na beira do campo. Só pode ter sido isso...
Até 2010. Todos rumo ao hexa... ¬¬