De 9:50 a 9:51


Com certeza vou sentir saudades dessa viagem. Não saudade das festas na praia, nem das musicas sem letra. Não vou sentir saudades das coisas tristes que aconteceram, mas que ficaram na história. Não vou sentir saudade da falta que sentia por meus amigos, nem da falta que eu sentia da rotina da minha vida, nem das noites de felicidade momentânea. Mas sentirei falta dos rostos que consegui olhar nos olhos. Vou sentir falta das pessoas simples e humildes que moram naquela terra tão castigada. Vou sentir falta dos amigos que não fiz, por essa maldita mania de julgar as pessoas sem antes conhecê-las. Vou sentir falta de dividir o alojamento, o banheiro, a mesa, o carinho. Vou sentir falta de rir por tudo e chorar por nada.
Vou ter saudades das pessoas que conheci e nunca mais vou ver, e nem ouvir falar. Vou sentir saudades dos amigos temporários. Das noites sem dormir, e dos dias de sol. Vou sentir saudades do sorriso das pessoas, dos seus olhos, saudade de ver as pessoas dançando sem se preocuparem se tem alguém olhando. Não vou sentir falta da boca que beijei. Mas sim do sentimento que não pôde ser sentido. Da emoção que não pode ser vivida. Não vou sentir falta do azul de seus olhos, mas sim de toda a verdade que eles conseguiam passar pra mim quando me olhavam tão profundamente. Vou sentir falta do grito sufocado, do choro segurado, do sentimento preso, das palavras não ditas e das palavras ouvidas. Vou sentir falta dos cheiros, gostos, sensações diferentes...
E só de saber que tudo isso passou na velocidade da luz, de 9:50 para 9:51, penso que não vi nada, penso que nem respirei direito, penso que nem pensei, que nem vivi... Lá o tempo me foi abreviado, assim como os sentimentos pelas pessoas e coisas. Não temos tempo de nos apegar a nada nem a ninguém. Vou sentir saudade sim de tudo que poderia ter feito e não fiz. De tudo que poderia ter sentido e não senti, por medo de chorar. Vou sentir saudade dos longos dias e das noites intermináveis. Mas vou sentir mais saudade ainda do tempo que não para e nem volta pra trás.