Palavras para uma pessoa que vale muito de alguem que nem vale tanto assim.


Ele é alguém que por acaso do acaso entrou nessa minha vidinha casualmente enrolada, causando uma das melhores sensações de causa que existe! Tenho um caso de doçura e encantamento com esse moço, que, por um acaso, eu adoro. Entretanto, sem acaso, tenho certeza de que é eterno nosso caso...
O acaso faz coisas engraçadas com a gente. Quando eu imaginaria que surgiria uma relação assim de um convite tão casual? O caso que agora está entre a gente é, por acaso, algo totalmente novo. Digo “está” porque vai que um dia, por alguma casualidade, todo esse mar de rosas acaba... O conselho que dou é que tenho que estar preparada pra tudo. E ele também deve se preparar.
Depois de tudo o que foi dito por acaso, tenho certeza de que a minha indiferença faria muito mal a ele. Trocando em miúdos: por vezes nos odiamos, mas acabamos nos amando novamente depois.
Ô, coisa boa esse caso!
É muito bom a gente se sentir bem e saber que está causando esse mesmo sentimento no outro.
Sem mais palavras, até o próximo post.

Solidão Amiga


A noite chegou, o trabalho acabou, é hora de voltar para casa. Lar, doce lar? Mas a casa está escura, a televisão apagada e tudo é silêncio. Ninguém para abrir a porta, ninguém à espera. Você está só. Vem a tristeza da solidão... O que mais você deseja é não estar em solidão...
Mas deixa que eu lhe diga: sua tristeza não vem da solidão. Vem das fantasias que surgem na solidão. Lembro-me de uma jovem que amava a solidão: ficar sozinha, ler, ouvir músicas depressivas... Assim, aos sábados, ela se preparava para uma noite de solidão feliz. Mas bastava que ela se assentasse para que as fantasias surgissem. Cenas. De um lado, amigos em festas felizes, em meio ao falatório, os risos, a cervejinha. Aí a cena se alterava: ela, sozinha naquela sala. Com certeza ninguém estava se lembrando dela. Naquela festa feliz, quem se lembraria dela? E aí a tristeza entrava e ela não mais podia curtir a sua amiga solidão. O remédio era sair, encontrar-se com a turma para encontrar a alegria da festa. Vestia-se, saía, ia para a festa... Mas na festa ela percebia que festas reais não são iguais às festas imaginadas. Era um desencontro, uma impossibilidade de compartilhar as coisas da sua solidão... A noite estava perdida.
Faço-lhe uma sugestão: leia o livro “A chama de uma vela”, de Bachelard. É um dos livros mais solitários e mais bonitos que jamais li. “A chama de uma vela”, por oposição às luzes das lâmpadas elétricas, é sempre solitária. A chama de uma vela cria, ao seu redor, um círculo de claridade mansa que se perde nas sombras. Bachelard medita diante da chama solitária de uma vela. Ao seu redor, as sombras e o silêncio. Nenhum falatório bobo ou riso fácil para perturbar a verdade da sua alma. Lendo o livro solitário de Bachelard eu encontrei comunhão. Sempre encontro comunhão quando o leio. As grandes comunhões não acontecem em meio aos risos da festa. Elas acontecem, paradoxalmente, na ausência do outro. Quem ama sabe disso. É precisamente na ausência que a proximidade é maior. Bachelard, ausente: eu o abracei agradecido por ele assim me entender tão bem. Como ele observa, "parece que há em nós cantos sombrios que toleram apenas uma luz bruxoleante. Um coração sensível gosta de valores frágeis". A vela solitária de Bachelard iluminou meus cantos sombrios, fez-me ver os objetos que se escondem quando há mais gente na cena. E ele faz uma pergunta que julgo fundamental e que proponho a você, como motivo de meditação: "Como se comporta a Sua Solidão?" Minha solidão? Há uma solidão que é minha, diferente das solidões dos outros? A solidão se comporta? Se a minha solidão se comporta, ela não é apenas uma realidade bruta e morta. Ela tem vida.
Entre as muitas coisas profundas que Sartre disse, essa é a que mais significa pra mim: "Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você." Pare. Leia de novo. E pense. Você lamenta essa maldade que a vida está fazendo com você, a solidão. Se Sartre está certo, essa maldade pode ser o lugar onde você vai plantar o seu jardim.

Paisagem Indígena Imaginária


Na cidade sem mar, inventamos nossa praia. A torre da igreja é um farol que se destaca contra o céu, por sobre a copa das árvores. As barracas são barcos ancorados no cais, expondo os frutos do trabalho da semana. Todo domingo, bem cedo , a persistência dos navegadores constrói um porto, no espaço de uma rua. Mercadores do brique e índios guaranis são marcos na entrada desse porto, rota de encontros de tantos povos que formaram a cidade, dispersos nos outros dias da semana. A beira d'água deste mar interno caminhamos sem pressa garimpando conchas, vestígios de naufrágios, registros da vida que as ondas depositam na areia, aos quais nenhum olhar é indiferente. Resgates de cargas preciosas, de viagens tão próximas e distantes, no tempo e na memória, como os copos de uma antiga cristaleira, um relógio a evocar o som do carrilhão na casa dos avós, um selo raro, estampas de sabonete Eucalol com fotos de artistas de cinema, bonecas de porcelana de terras estrangeiras e nossa fauna esculpida em madeira, ao lado de uma menina índia que, com mãos hábeis, executa o trançado de mais um cesto colorido. Colorido das bandeiras agitadas, estandartes de idéias, do trabalho dos pintores, do bordado dos tecidos, das contas dos colares, de nossas roupas, nossos olhos e de nossa pele. Mãos hábeis que trabalham o metal, argila e o couro, que traçam linhas no papel e descobrem a escultura no veio da pedra e da madeira. Que executam receitas de uma variada culinária a encher o ar de deliciosos aromas. E tocam instrumentos. Músicos de rua ou de uma orquestra sinfônica se confundem ou calam o som da multidão. E em meio ao burburinho, fala-se português com diferentes sotaques e ouve-se conversas em vários idiomas. Haver um porto só depende de um olhar aberto e generoso num espelho. Olhar que buscando a linha do horizonte, descobre, no centro do mundo, a praça de uma aldeia. Na cidade sem mar, a praia que inventamos, em seus limites tem qualquer lugar cujo sufixo do nome seja -teua.

O Quase.


Ainda pior que a convicção do não é a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz.
A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.