Mas o tempo passou e eu me divorciei do "poetinha". O apelido pejorativo dado a Vinícius passou a fazer todo o sentido para mim quando conheci a dureza de Augusto dos Anjos, a nostalgia melancólica de Manuel Bandeira e a genialidade esquizofrênica de Fernando Pessoa. Com o tempo, ler um soneto passou a ser como folhear um jornal muito velho. Abaixo a rima e a métrica, viva o concretismo sempre tão urbano!
Mas não devemos nos apegar aos livros, não é verdade? Não podemos vê-los como objetos colecionáveis simplesmente. A palavra não pode ficar aprisionada em uma estante. A crônica precisa ter asas e chegar ao maior número possível de pessoas. Tive a prova disso quando conheci, não faz muito, alguém que, além de adorar Vinícius de Moraes, traz em si toda a doçura e beleza que o poeta viu em suas tantas musas. Ela bem poderia ser a menina com uma flor da qual Vinícius fala. E este livro precisava ser dela.
Sempre tive um pouco de vergonha de presentear alguém com trechos de um livro assim, mas a emoção e a alegria dela ao receber o presente e todas as provas que ela já me deu da adoração pelo escritor só me fazem ter certeza de que não existem livros velhos e de que as palavras não envelhecem nunca. Sempre haverá uma menina com uma flor em algum lugar, pronta para receber algo que tenha sido escrito para ela.